sexta-feira, 19 de junho de 2015

poeminha

Palavras <3 
Como as amo...

Dão significado a tudo. Até ao que não tem significado. Justificam mesmo quando não há explicação! Pedem perdão, aliviam o peso do coração. Fazem cansar as mãos, as bocas, os ouvidos.
Não importa.
Palavras nunca acabam. Mesmo demais, são poucas.
Escritas, ouvidas, faladas ou lidas.
Expressam o que sente o coração, muitas vezes, não.
Giram pela cabeça antes de sair e depois de entrar. Às vezes escorrem entre os dentes e caem.
Machucam. Alegram. Divertem. Consolam.
Palavras, para mim, não são só letras de mãos dadas, fazendo cantiga. Palavras, para mim, são uma velha amiga.
Daquelas que me fazem pôr para fora o que o peito não aguentaria carregar sozinho.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Um conto

Eu sabia que não era boa ideia entrar na reserva florestal à noite. Estava frio e o céu nublado não permitia que o brilho da lua atravessasse a copa das árvores. A luz dos faróis do carro nos deixava ainda mais cegos e eu não fazia ideia do que nos observava. Só sabia que algo nos observava.
- Quero ir embora daqui - falei, mas fui ignorada.
Já assustada, grudei os olhos num determinado ponto atrás de nós. Eu não conseguia sequer enxergar as árvores, mas sentia que tinha alguma coisa ali, me encarando de volta.
Um rosto se revelou entre as sombras e desapareceu no mesmo segundo. Eu não tinha certeza se realmente o vira, mas só a dúvida já foi suficiente para que todo o pânico preso em minha garganta escapasse num grito.
Vi quando a luz da lanterna do meu namorado sumiu entre as árvores e contei os segundos, apavorada, até que ele voltasse aborrecido e tipicamente orgulhoso por sua coragem e heroísmo. Ele não teve tempo de contar vantagem. Algo o puxou com uma força sobrenatural e o arrastou novamente para a escuridão. Dessa vez, a lanterna ficou ali, no chão, me encarando. Entrei no carro, tremendo e girei a chave na ignição. Dei ré e parti, às cegas, para fora dali. Senti que passei por cima de algo, mas não tive coragem de parar.
Não fui muito longe. Percebi que o carro parou de andar, apesar de seu motor funcionar. Pelo retrovisor, vi dois braços magros e pálidos segurando a traseira do veículo.
Meu coração já nem sabia mais se parava ou acelerava.
O carro desligou sozinho e tudo ficou mortalmente quieto. Lutando contra o medo, ainda vendo os braços pelo retrovisor, respirei fundo e virei o rosto para trás. Nada.
Não havia nada do lado de fora do carro. Apenas a noite escura e fria.
Trêmula, decidi tentar ligar o carro. Consegui. Liguei os farois e quase ri de alívio. Quase.
Não tive tempo de dar partida. Uma mulher estava parada, na minha frente, do lado de fora.
Tinha os cabelos ruivos e fartos, caindo pelos ombros. Seus olhos eram selvagens e não se retraíam com a luz forte. Sua pele era de um tom cadavérico e quando abriu um sorriso feroz, exibiu dentes amarelos e pontiagudos, imundos de sangue e... Carne?
Eu não conseguia me mexer. Apenas a encarava, apavorada e hipnotizada.
Ela estava nua e aquilo me perturbava de um jeito estranho. Eu já tinha visto minhas amigas nuas antes, diversas vezes. Mas com aquela criatura, senti algo diferente. Algo proibido.
A coisa riu, ciente do meu estranho desejo. Exibiu os dentes afiados e estremeci de medo e excitação. Dando passos sensuais e lentos, a mulher deu a volta e parou na janela do banco carona. Senti seus olhos me despindo e meu corpo inteiro se aqueceu.
Eu sabia que não devia, não podia, mas precisava deixá-la entrar. Precisava conhecer o calor do toque de uma mulher. Precisava do toque daquela mulher.
Destravei o carro. Graciosamente, ela inclinou o corpo nu, entrando de cócoras.
Engatinhou até meu banco e sua pele exalava um perfume pecaminoso e assassino.
A mulher arrancou o volante sem esforço e o jogou pela porta aberta por onde entrou.
Sem nenhum empecilho entre nós, passou uma perna por mim e se acomodou em meu colo.
Eu já estava decidida a ser dela, de corpo e alma. Não lutaria. Não resistiria. Eu era dela e ela era minha.
E assim foi.
Ela gentilmente desceu minha jaqueta dos meus ombros e a tirou. Senti seus dedos frios tocarem minha pele morna ao levantar minha blusa e passá-la por minha cabeça.
Com um sorriso terno e irresistível, ela despiu meu sutiã.
Seus olhos famintos e libidinosos eram agradáveis. Não era como se despir para um homem. Era reconfortante e seguro. Era... Certo.
Seus lábios frios tocaram a pele macia do meu pescoço e, sem perceber, segurei seus cabelos e a pressionei contra meu corpo, desesperada por seu toque.
Enquanto beijava meus ombros e pescoço, suas mãos passearam por minhas costas, arrepiando minha pele. Eu estava apaixonada. Faria o que ela quisesse.
- Seja minha - sua voz sedutora em meu ouvido era um deleite para meus nervos.
- Eu sou sua - sussurrei de volta.
Ela afastou os lábios de meu rosto e me encarou com satisfação. Como ela era linda! Seu sorriso demoníaco e seus olhos flamejantes despertavam horror em algum lugar muito profundo e distante de mim, mas eu não deixaria que nada estragasse aquele momento.
Então, ela se inclinou para o tão esperado beijo e recuperei todo o meu senso de realidade, mas já era tarde demais.
Tudo o que pude fazer foi gritar, enquanto sentia seus dentes rasgarem minha pele.